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Back to topActividad Cosmopoética
Entrada libre hasta completar aforo
Biografía
Poema
As sextas-feiras
desaparecem em cima da mesa.
depois reaparecem no verão
entretanto passeamos de bicicleta
sobre os significados das coisas
mas os passeios são de domingos.
as sextas-feiras tocam-me a pele
ao de leve
aparecem agregadas ao amor próprio.
as sextas-feiras tristes rastejam
pelo fim da tarde prometendo alívio
assegurando amor e descanso,
esperança tão profunda como os esgotos.
à sexta-feira escrevo o meu nome no selim
da tua bicicleta
pode ser este o fim-de-semana em que me chamas.
há anos que todos os dias são
sextas-feiras.
Pandemónio
a mãe pousa o pensamento
na inclinação da sala
os seus verbos deambulam
pelas horas proibidas das ruas
a criança jorra em todas as direções
a sua existência secreta
como um sismo
também a criança se vai sentar
ao longo das manhãs fechadas
à espera que lhe cresçam
olhos de gaivota.
sou vida-casa
na contemplação do fogo:
incêndio permanente
que embala as portas
e não deixa ninguém entrar
portas e janelas adormecidas
ao longo das cidades
que se escondem
em quartos abandonados
peixes felizes
escorrem das torneiras
em direção à náusea
e a casa desagua
no sossego de estar viva
repousa na respiração
das paredes
até ao quisto
no chão das palavras.
A literatura é uma fábrica
com miolos azuis
manhãs burguesas,
telefones ou telemóveis que vibram com os lábios
um automóvel, um prédio
um fascismo vulnerável
num horizonte proletário,
a lógica escorrega-me
diretamente da gargalhada,
mas o meu género é subgénero
asfixiado,
transpirado
transpira pelas paredes.
que venha o fado
ou então o gado, para facilitar,
talvez o gado.